Sendo bem honesto. Se alguém me dissesse, há dois anos, que veríamos Liam e Noel Gallagher dividindo o mesmo palco de novo, eu diria que era uma baita viagem ou fake News.
Mas, seja por grana, por tédio, amadurecimento, ou tudo junto, aconteceu.
Wembley assistiu o milagre improvável desde que o sol apareceu por três dias seguidos: o Oasis, a banda dos perrengues e barracos em camarins, entrou no palco em carne, osso e guitarra.
Quando Liam dedicou “Stand By Me” a Noel, foi como se o universo do britpop tivesse recebido uma massagem cardíaca emocional. Foi tosco, foi lindo, foi Oasis. Nem solos épicos nem apologia pela paz mundial — só os dois caras cantando e fãs chorando como se os anos 90 não tivessem terminado.
Não foi um espetáculo de técnica ou inovação.
Foi um ato de humanidade rock’n roll em estado bruto. O tipo de honestidade que falta em 90% das bandas pop que vivem de collab e autotune. O Oasis ainda tem mais alma em uma desafinada do que qualquer lançamento impecável.
Mas não é uma volta oficial. É um aceno. Como aquele primo que aparece no Natal depois de dez anos, come tudo, implica com um, puxa o cabelo de outro, abraça todo mundo e vai embora.
O que dizer de “Don’t Look Back in Anger” com o público em transe?
O reencontro dos Gallagher é menos uma reunião de banda e mais uma metáfora sobre o passar do tempo, as feridas que viram tatuagem, e o fato de que o rock britânico, quando não tenta ser jovem à força, ainda é a melhor trilha sonora dos nossos dramas.
Se vai durar? Não se sabe e também…tanto faz.
Às vezes, só às vezes, esses caras que mostraram o que é odiar com estilo também sabem nos ensinar a amar pela música. E isso ainda vale muito mais do que qualquer trend de ultima hora.
Como diz “Don’t Look Back in Anger”:
Então eu começo uma revolução da minha cama
Porque você disse que o pouco de juízo que eu tinha
Subiu à minha cabeça
Saia lá fora, o verão está florescendo
Fique de pé ao lado da lareira
Tire esse olhar do seu rosto
Você nunca vai queimar meu coração…
É a maneira Noel Gallagher de dizer, com um meio sorriso e um cigarro quase caindo dos lábios, que deixar o rancor de lado e perdoar pode ser libertador.
Nada mais rock and roll…
Daniel Souza